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Brasil, 1973, ditadura militar. No Espírito Santo, uma garota de 8 anos é assassinada brutalmente. Quatro meses depois, em Brasília, uma menina de 7 anos também é morta com requintes de crueldade. O que esses dois casos têm em comum? Suspeitos de famílias tradicionais, omissão de provas e impunidade.

Caso Araceli:

Imagem do site Gazeta Online

Imagem tirada do site Gazeta Online

Com apenas 8 anos de idade, Araceli Cabrera Sánchez Crespo foi espancada, torturada e violentada. Como se não bastasse,  teve sua barriga, seios e vagina dilaceradas com mordidas, como foi noticiado em alguns veículos. Para dificultar a identificação, foi jogado ácido no corpo dela. Só depois de três anos o pai de Araceli, Gabriel Crespo, pôde enterrar sua filha.

Chegaram a especular que Araceli foi vítima de sua própria mãe, a boliviana Lola Sánches, que teria mandado a garota entregar um pacotinho de drogas em um prédio onde estava acontecendo uma festa regada a álcool e drogas. Nada foi comprovado.

Os suspeitos desse crime eram de uma família tradicional e rica do Espírito Santo.  Dante de Barros Michelini, Dante de Brito Michelini (Dantinho) e Paulo Constanteen Helal chegaram a ser condenados em 1977. Mesmo com testemunhas contra eles, depois de 18 anos, eles foram absolvidos por falta de provas, de acordo com o juiz.

Durante as investigações desse caso, 14 pessoas foram misteriosamente executadas e jornalistas presos. Por ter acontecido na época da ditadura militar, muitas matérias foram censuradas por conter conteúdos que não ”agradavam” os poderosos.

O caso Araceli tomou uma grande repercussão não só naquela época, mas perpetua até hoje. José Louzeiro,  jornalista, escreveu o livro ” Araceli, meu amor” que, na época, deu uma visibilidade ainda maior para o crime. O livro foi republicado em 2013.

Em 2015, o caso completou 42 anos e o site G1 ES fez uma matéria com diversos vídeos e fotos atuais sobre o crime. Entre os vídeos, um depoimento do homem, que na época tinha 15 anos, que encontrou o corpo de Araceli atrás de um hospital do Espírito Santo. Também está disponível no Youtube no canal Memória Capixaba, um programa completo do Arquivo N, da Globo News, onde a equipe fez uma retrospectiva do caso onde é mostrado imagens feita na época, recuperada da TV Gazeta, de depoimentos e entrevistas com alguns dos envolvidos.

Após 27 anos, a data 18 de maio foi transformada no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, tornando-se um símbolo de luta.

Em 2005, dois estudantes de Rádio e TV de Vitória, Tatiana Beling e Diego Herzog fizeram um documentário  sobre o trabalho da imprensa que cobriu o caso. No vídeo, jornalistas contam como foi a repercussão e os problemas que tiveram para conseguir informações.

Confira abaixo os links do documentário ” Caso Araceli: a cobertura da Imprensa” :

Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=SiGwIgsjI8k

Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=yzcG-V_BF08

A revista VEJA, também noticiou o caso em duas edições:

Edição 357- 9 de julho de 1975

Edição 357- 9 de julho de 1975

Edição 616- 25 de junho de 1980

Edição 616- 25 de junho de 1980

Caso Ana Lídia

Correio Braziliense

Imagem tirada do site Correio Braziliense

A nova capital do Brasil, Brasília, tinha apenas 13 anos quando aconteceu um dos crimes que mais chocaram a cidade e o país: o assassinato de Ana Lídia.  No dia 12 de setembro de 1973, Ana Lídia, que na época tinha 7 anos, foi assassinada e encontrada semi-enterrada, nua, com marcas de violência sexual e com seu cabelo cortado bem curtinho. O caso assustou famílias e toda a sociedade brasileira.

Deixada pelos pais na escola Madre Teresa de Salles no dia 11 de setembro, o jardineiro Benedito Duarte da Cunha afirmou ter visto um homem alto e loiro ter pego Ana Lídia – sem nenhuma resistência- logo após os pais irem embora. No mesmo dia, foram encontrados os materiaIs escolares perto de um clube na cidade.

Só no outro dia, ás 13h, policiais encontraram o corpo da garota em uma vala no terreno da Universidade de Brasília. Haviam camisinhas e marcas de pneu de moto perto do local onde encontraram a garota.

Quem poderia ter feito isso? Os suspeitos nada mais eram do que o próprio irmão de Ana Lídia, Álvaro Henrique Braga, o filho do Ministro da Justiça da época, Alfredo Buzaid Júnior, filho do senador Eurico Resende, Eduardo Ribeiro Resende e o traficante Raimundo Lacerda Duque. Até Fernando Collor, que na época tinha 24 anos, foi especulado como suspeito.

Suspeitas, versões diferentes do caso e testemunhas. Mas nada foi feito.

Naquele ano, o Brasil passava pela ditadura militar e – claro- eles iriam abafar o caso de qualquer maneira, já que o filho de um ministro poderia estar envolvido. Acredita-se que também houve uma certa omissão por parte da própria família. Talvez por que o irmão de Ana Lídia estaria envolvido ou estavam com medo dos militares?

São perguntas que nunca serão respondidas.

Em 1974, Brasília ganhou um parque chamado Ana Lídia, em homenagem a garota. No Dia de Finados, o túmulo da menina ainda recebe visitas e presentes.

Na revista VEJA o crime também foi noticiado:

Edição 263- 19 de setembro de 1973

Edição 263- 19 de setembro de 1973

Edição 484- 14 de dezembro de 1977 (1)

Edição 484- 14 de dezembro de 1977 (1)

Edição 484- 14 de dezembro de 1977 (2)

Edição 484- 14 de dezembro de 1977 (2)

Edição 926 – 4 de junho de 1986

Edição 926 – 4 de junho de 1986

Jornal do Brasil (26/07/1985) – Assassinato de Ana Lídia volta a ser investigado

Folha de S. Paulo (03/08/1985) – Comissão do caso Ana Lídia não sabe por onde começar as investigações

O Globo (05/08/1985)- Mônica Teixeira vai depor perante comissão que apura morte da menina

UnB Agência (28/12/2009)- Mais um crime insolúvel?

 No vídeo abaixo, você poderá conferir um trecho do programa Linha Direta em novembro de 2007 onde foi mostrado o desenrolar do caso Ana Lídia: